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  • cia Aurora

Crítica: Lovecraft Country (2020)


Nota: 4,0 (Muito bom)


É inegável a importância do nome Lovecraft para a literatura de horror, além de popularizar contos com essa temática mais Sci-fi dentro de suas criaturas, ele também, inspirou uma série de outros autores que trouxeram monstros que podemos até dizer com um "Quê lovecraftiano". Mas, o que muita gente não sabe ou não se atenta são, dentro de suas obras, as passagens claramente racistas que mostravam muito da personalidade aristocrata do autor.


Dito isso, em forma de livro, Matt Ruff nos apresenta uma narrativa critica e ao mesmo tempo fantástica, ao nos trazer essa pequena, porém muito bem vinda subversão, colocando essas criaturas com esse "quê" só que agora para enfrentar pessoas negras, mostrando que a realidade de um conceito de soberania, pode ser muito mais assustador do que qualquer monstro. E se já não era suficiente, tudo isso foi adaptado por Misha Green em uma das melhores surpresas televisivas de 2020.


A premissa é bem simples, um rapaz chamado Atticus (Jonathan Majors) embarca em uma viagem nos anos 50 em busca do pai (Michael K. Williams) junto do tio (Courtney B. Vance) e da amiga de infância Letitia (Jurnee Smollett). Para quem acompanha as produções da HBO, deve ter sido inevitável acabar fazendo a comparação da premissa de "Lovecraft Country" com a recente e extremamente bem feita "Watchmen". E não é para menos, ambas carregam premissas similares, colocando o racismo e a violência como propostas para suas premissas. E vou ti falar que maneira bem feita de criticar e questionar os padrões! Aqui saimos do lugar comum de roteirizar apenas cenas em situações racistas (sim, elas estão aqui, e a maioria delas nos dão socos fortes no estômago, mostrando como a violência racial pouco mudou. Algo muito bem colocado no episódio 8 com a fala de uma das personagens: "I can't breath" nos lembrando diretamente ao caso de George Floyd.) Mas, realmente combate-las da forma que deveria ser: Colocar o negro como protagonista. E cá entre nós, que coisa gostosa de se ver, protagonistas negros que vão ao espaço, caçam tesouro e até enfrentam monstros. Isso coloca não só a representatividade tela como abre um espaço para o debate e a reflexão, da forma que nem por um segundo, esqueçamos de nos entreter com a arte em tela.


Quanto ao elenco, Jonathan Majos convence com sua pinta de bom moço que aos poucos vai mostrando suas imperfeições (para ser honesto, um dos grandes acertos é mostrar que nem os mocinhos são perfeitos em sua índole). O ator esbanja carisma e logo nos primeiros minutos, nos compra como seus parceiros de viajem. Mas, ele não é o único, a Letitia de Jurnee Smollett é aquele tipo de personagem que você olha e se reconhece logo nos primeiros minutos, apresentando aquele jeito que temos conosco do clássico "puta merda, queria ser assim!" A caracterização da atriz é super divertida, passando bravura e espontâneadade na dosagem certa. Observem como conseguimos comprar suas atitudes nos momentos mais tenso da obra (NO SPOILLER'S). O resto do elenco não deve em nada aos colegas de elenco. Destaque para o personagem de Michael K. Williams que protagoniza uma das cenas mais arrepiante e pesada de toda a temporada. Seu personagem, pelo menos para mim, é o que mais evolui mostrando claro e discreto desenvolvimento.


A direção de arte não poderia deixar de ser menos do que esplendorosa, mas falar sobre ela em uma produção da HBO, é como chover no molhado. A emissora sempre têm um bom histórico por investir pesado em suas ambientações; temos total imersão no periodo narrado, desde o figurino, até a criação das casas e vizinhanças que compõe a temporada. É impressionante a harmonização de tudo e as paletas de cores utilizadas, até em cenas mais tensas, como a cena da floresta, ainda no primeiro episódio, apresentando um ar de perigo, insegurança e ainda assim, uma sensação de estar assistindo uma aventura como os clássicos filmes de monstros dos anos de ouro do Sci-fi.


Se há alguma problema em relação a temporada que possa atrapalhar a experiência geral, ela se encontra justamente na parte final da temporada, onde há um mal aproveitamento muito grande de certos personagens que acabam tendo seus arcos fechados de forma apressada, traindo nosso envolvimento. Isso é ainda mais sentido com a estrutura da série que quase funciona inteiramente como uma antologia, assim, dedicando um bom tempo para cada personagem e quando os junta, dá a eles fins muito aquém de seus respectivos valores. Outra coisa que pode incomodar, são as sequências apressadas e algumas soluções que surgem de forma mirabolante (até para a série) questionando bastante nossa suspensão de descrença. Tais problemas, aparentam que poderiam ter sido resolvidos com um pouco mais de atenção.


Mas, nada disso, apesar de prejudicar a série e deixá-la menos perfeita, sinceramente tira nosso envolvimento de uma obra tão potente e diferencial. Apesar do deslize em seus momentos finais, Lovecraft Country é sem duvida uma ótima pedida para os amantes de criaturas fantásticas, com mistérios ao estilo Lost e uma pitada de tompero especial (leia como Érick Jaqcin) que é a critica social. Um tema muito relevante que não deveriamos estar mais discutindo, mas que infelizmente ainda é muito necessário. Assim, reforçando nosso desejo de que gostariamos que os monstros fossem apenas as criaturas das páginas escritas, dos contos de fantasia por ai.


Por Isaac J. Serrão

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