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  • cia Aurora

Por aquele sorriso!



Por aquele sorriso:

Não era de se esperar que aquele horário o ônibus estivesse vazio, geralmente por volta das sete horas da noite já havia tanta gente, que o acento do cobrador virava cadeira para dois. Mas, não aquela manhã, tudo estava calmo e tranquilo, passando até uma paz meio sobrenatural.

Era aí que o pobre garoto se encontrava, perdido e assustado, estava naquele ônibus sem fazer ideia para onde ia. Pegou apenas o primeiro ônibus que viu e tentou a sorte, esta que há tempo lhe faltava.

As marcas que trazia no pescoço, as manchas na roupa e a olheira que lhe cobria os olhos, guardavam segredos que lhe endureciam o coração e a alma. Mas, como já foi dito, aquela era uma manhã extremamente especial, uma manhã de paz.

As ruas passeavam pela janela, davam lugar a cores e monumentos que lhe enchiam a imaginação. Sentia-se como um aventureiro que viajava rumo a um perigo que estava destinado a vencer. Interpretava a vida como uma cena fantástica de um filme animado onde o final feliz era garantido.

Exausto da viagem de ônibus, o menino se levantou e fez sinal para descer. Andando pelo corredor do transporte e olhando para a cadeira perto da porta, encontrou um jovem rapaz que estava sentado, chorando.

O menino se aproximou, não propositalmente, mas porquê precisava descer. Tentou ao máximo não olhar para o jovem que transmitia grande dor e preocupação, quer dizer, já bastava a dor que ele estava carregando, para que simpatizar com a dor do estranho que lhe atrapalhava a descida do ônibus. Ao ver o menino inocentemente o encarando, o rapaz lhe abriu um enorme sorriso! Um sorriso dado com a maior veracidade e alegria que ali podiam existir, um sorriso real.

O pobre menino o encarou e por reação acenou para o triste moço que continuou a sorrir para ele.

Descendo do ônibus, ainda eufórico pela reação inesperada do estranho que naquele momento de dor, tirou forças sabe-se Deus da onde para lhe entregar um sorriso, talvez, o sorriso mais real que ele já havia visto na vida. Vendo o ônibus partir ele se adiantou e foi andando rumo à sorte.

Alguns anos depois...

Esse mesmo menino foi preso acusado de roubo, já havia tentado estudar, trabalhar, mas a vida não lhe sorriu.

Em seu julgamento, agora já não sendo mais um menino, fazia um depoimento falando sobre o crime que cometeu. Ao lhe perguntarem, se ele se achava uma boa pessoa? Ele respondeu:

“isso eu não sei dizer, tudo que eu sei é que nada foi fácil até aqui, mas me orgulho de uma coisa: eu nunca matei ninguém!”

O juiz curioso, perguntou o porquê daquilo e ele respondeu:

“porque um dia, eu vi um sorriso tão bonito e verdadeiro que prometi que nunca tiraria isso de alguém.”

Todos empalideceram com aquele testemunho, exceto é claro o advogado de defesa que abriu para ele, um sorriso altamente familiar.


Conto escrito por Isaac J. Serrão para o livro "Contos Rubros".


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